TeE Entrevista: Herson Capri e Leandro Luna

Sucesso de público e crítica, a peça “A Vela” está em cartaz no Teatro UOL até o dia 02 de outubro de 2022 e teve grande repercussão na cena teatral ao falar sobre a história de um pai, interpretado por Herson Capri, que expulsou o filho de casa, Leandro Luna, por não aceitar sua orientação sexual e escolha pela arte drag. Os dois conversaram com a gente sobre o processo e as questões que atravessam a peça, e você confere a seguir.

TeE: Como foi o convite para fazer esse texto, e qual foi a primeira impressão que tiveram dos personagens?

Leandro: Rafael Gama, autor do texto, o escreveu durante a pandemia, mandou para Elias Andreato (diretor), que logo me encaminhou para ler. Fiquei muito emocionado com a primeira leitura e quis fazer e produzir essa peça logo de cara. Senti que esse ano era o melhor momento para se falar desse assunto, principalmente pelo contexto sociopolítico atual do Brasil, então apesar de tudo, esse contexto foi bom para o projeto existir. Convidamos o Herson para fazer o papel do pai, já conhecíamos e admirávamos o trabalho dele, e durante o processo tivemos a certeza de que a escolha foi certeira.

Herson: Leandro me mandou “A Vela” e fiquei muito mexido com o que li. É um texto primoroso, uma verdadeira joia do teatro que faz o público rir e se emocionar muito, com um assunto absolutamente pertinente com o hoje. A questão da homofobia acompanha o brasileiro há muitos e muitos anos, com tragédias e mortes desnecessárias, e está na hora de acabar com isso. Quando li o texto, percebi a importância e a qualidade dramatúrgica, eu não tive receio nenhum em fazer.

TeE: Vocês acham que “A Vela” e o teatro conseguem furar a bolha do público que já está com a cabeça aberta para debater homofobia e preconceito?

Herson: Essa questão é ótima, mas bem complicada. Quando falamos de solidariedade humana, de olhar para o outro, é algo que é debatido desde antes de Cristo e até hoje vemos que o homem ainda não está com uma postura solidária, mas sim em um individualismo exacerbado, muito influenciado pelo capitalismo. Por outro lado, o fator teatro é um fator de resistência, se não tivesse a arte em geral, especialmente o teatro, não sobraria nada que fizesse oposição à essas dificuldades que o preconceito e a homofobia promovem. É importante estarmos falando sobre isso com 400 pessoas por noite, porque mesmo que não mudemos o mundo de uma hora para a outra, nós plantamos sementes que vão se espalhando aos poucos.

Leandro: Nós vemos a transformação nas pessoas que vão nos assistir. Se não acreditássemos na nossa missão enquanto artistas, não teria sentido fazer esse trabalho falando sobre esse assunto. Nossa responsabilidade começa desde a escolha do que vamos dizer, das pessoas com quem iremos trabalhar, se há uma conexão da mesma sinergia, no mesmo propósito; e “A Vela” tem uma grande missão, nós acreditamos nesse espetáculo e vemos o resultado no olho das pessoas. Quando pegam na nossa mão após um espetáculo e compartilham conosco parte de suas histórias, nós temos a comprovação de como a arte tem sua função de transformação e de dar oportunidade para as pessoas revisitarem suas crenças e relações.

TeE: Um texto com um conflito dramático intenso igual o presente no espetáculo, depois de um tempo, torna-se confortável o jogo entre vocês atores, ou cada noite é possível a descoberta de novas provocações um com o outro?

Herson: Não tem como ficar confortável não (risos). Cada vez que entramos em cena, o espetáculo acontece de uma forma diferente apesar de ser o mesmo texto. Uma característica forte e que eu gosto de preservar em todo espetáculo que faço é a entrega e o mergulho no jogo teatral toda vez que entro em cena, algo que só o teatro nos possibilita enquanto atores.

Leandro: A gente sempre fala disso, tanto antes de começar o espetáculo quanto nos comentários depois das apresentações, sobre como todo dia nós vivemos coisas diferentes. As vezes em momentos específicos surgem emoções que nenhum de nós havia preparado ou planejado, e também há uma troca de temperatura com a plateia. Cada público é um público, que nos alimenta de formas e em prismas diferentes, e esse termômetro nos ajuda muito a entrar e explorar possibilidades e emoções novas em a cada dia.

SINOPSE:

O pai (Herson Capri), professor aposentado, expulsou o filho (Leandro Luna), uma drag queen por não aceitar a orientação sexual do filho e sua escolha pela arte drag. Ele decide se mudar para um asilo, por conta própria, depois de se ver muito sozinho após o falecimento de sua esposa. Prestes a se mudar, precisa empacotar suas coisas e acaba revirando seu passado enquanto a falta de luz o obriga a usar uma vela. Quem chega para o ajudar nessa mudança é Cadú, ou melhor, Emma Bovary, seu filho drag queen que retorna para tentar as pazes com seu velho pai e entender o que fez um homem tão culto agir de forma tão violenta. Mas, Cadú, ou Emma é categórico: eles têm apenas o tempo da vela que o pai acendeu se consumir para essa conversa se resolver.

FICHA TÉCNICA
Elenco: Herson Capri e Leandro Luna
Texto: 
Raphael Gama
Desenho de luz: Cleber Eli
Assistente de direção e
 produção: Rodrigo Frampton
Direção, caracterização e cenário
: Elias Andreatto

Temporada até: 02 de outubro de 2022.
Apresentações: 
Sextas, 21h l Sábados e Domingos, 20h (até 04/09).
Sábados, 22h e Domingos, 20h (a partir de 17/09).
Ingresso aqui: R$ 100,00 (setor A) e R$ 70,00 (setor B).
Duração: 70 minutos.
Classificação etária: 12 anos.

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