TeE Entrevista: Carlitos Tostes

O quadro TeE Entrevista de hoje é com um dos integrantes da Cia. Os Malditos, que estão com um espetáculo maravilhoso chamado “Música de Feitiçaria”. Carlitos contou pra gente sobre o processo de criação e de apresentação da peça, e você confere a seguir!

TeE: CARLITOS, CONTA PRA GENTE COMO FOI O SEU COMEÇO NAS ARTES DA CENA. O QUE TE LEVOU A TRABALHAR COM TEATRO?

CARLITOS: A minha relação com o teatro se deu desde que eu era criança, seja na escola ou na igreja. Eu sou de Araraquara, e lá eu assistia sempre quando tinha oportunidade, mas eu demorei para efetivamente começar a trabalhar com isso. Fiz faculdade em outra área, e só depois de formado em biblioteconomia que surgiu uma oficina em Araraquara de iniciação teatral, que me apaixonei quando fiz e decidi seguir carreira e não parei desde então, já há 10 anos.

E em 2020 entrei para a Cia. Os Malditos (ou Os Maldites, estamos ainda entendendo qual é o melhor lugar de representação), que surge muito espontaneamente de uma proposta no SESC Bom Retiro, com o Rafael Antônio, hoje diretor e que era educador desse SESC. No auge da pandemia surgiu a proposta de fazermos leituras online de textos de dramaturgos e dramaturgas considerados “malditos”, em um sentido de uma dramaturgia que foge do convencional do que é aceito para o teatro, ou porque tinham uma vida que era considera na margem.

Em 2021, houve um segundo momento desse projeto, e agora fora do SESC, o grupo está se entendendo como unidade, começando a trilhar seu caminho com a peça “Música de Feitiçaria”, nosso primeiro trabalho presencial.

TeE: Sobre a peça “música de feitiçaria” – é uma adaptação do livro “música de feitiçaria no Brasil”? Como vocês construíram a dramaturgia da peça ? Por que a escolha desse texto específico do Mário?

CARLITOS: Quando estávamos estudando peças teatrais que tinham um rompimento e um diálogo direto com o público, esse foi um dos textos que lemos através de uma adaptação feita pelo Fredy Állan, que tem uma grande pesquisa com o Mário de Andrade e manteve fielmente as passagens, amarradas com algumas canções. Porém, a nossa proposta é muito diferente da feita pelo Fredy já de início. Estamos apresentando esse espetáculo em praças públicas, o que já difere bastante da concepção original.

Nós entendemos que a nossa proposta está muito mais ligada ao jogo cênico que se dá com os transeuntes, do que com uma encenação em palco tradicional. Estamos em contato direto com a rua, com suas interferências e desafios. Nós também somos pelo menos 3 Mários em cena. Somos várias vozes, reflexões e atravessamentos que a figura do Mário de Andrade provoca. E, além disso, nós realizamos as ações que o próprio Mário descreve em seus escritos.

O livro original foi organizado por uma escritora chamada Oneyda, a partir de uma conferência que o Mário faz na década de 30, sobre uma viagem que fez na década de 20 em vários terreiros de Catimbó para recolher e estudar essas músicas. Contamos essa história na peça através da realização dessas ações, como se Mário rompesse essa linha do espaço-tempo e voltasse às experiências passadas contando essa história no presente. Ele e nós artistas nos vemos naquele rito, o que cria a nossa identidade enquanto grupo contando essa história.

Carlitos em cena
Créditos: Felipe Stucchi

TeE: COMO FOI O SEU PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DESSA NARRATIVA QUE VOCÊ, ENQUANTO UM DOS DIVERSOS MÁRIO DE ANDRADE, APRESENTA NA PEÇA?

CARLITOS: É muito interessante vocês me perguntarem isso, porque tem um lugar clássico do Mário que é dele e ninguém tira. Só que durante o processo, sempre tentei buscar um Mário que pudesse dialogar mais com um público geral, já que estamos em lugares descentralizados, em periferias, então sempre foi uma preocupação pra mim trazer esse Mário mais acessível, mais popular. Não necessariamente na linguagem, mas na forma, quebrando esse lugar de pedestal intelectual que muita gente o enxerga. É uma relação muito próxima com o eu-ator, não tem um grande trabalho psicológico para entrar nesse personagem, mas sim uma contação do Carlitos no espectro do Mário de Andrade em jogo com a plateia e os outros atores. Também é uma constante descoberta, a cada apresentação descobrimos o que funciona e o que não funciona, onde cada experiência é muito enriquecedora tanto para mim, quanto para o espetáculo.

TeE: POR QUE O DESEJO DE LEVAR ESSE TEXTO ESPECIFICAMENTE PARA AS PRAÇAS DE PERIFERIAS DE SÃO PAULO?

CARLITOS: Nós fomos contemplados por um edital da Secretaria Municipal da Cultura do Estado de São Paulo, que se chama “Edital de apoio a projetos artísticos culturais descentralizados de múltiplas linguagens”. De acordo com o próprio edital, os projetos devem sair do centro de São Paulo.

A escolha por estar na praça, inicialmente, foi por uma certa facilidade da gente ter onde apresentar. Também acreditamos que a rua é um dos espaços mais democráticos que temos no meio urbano, pois é um local de transição, que você pode ficar do começo ao fim, ou sair a hora que quiser. É quase como se fosse um happening, que pega de surpresa quem está na praça naquele dia. Acreditamos que esse processo traz uma horizontalidade ao acesso cultural, que por vezes é muito renegado fora da região central. Queremos facilitar o acesso em diversos lugares, que já têm o seu fervor cultural acontecendo, mas que queremos integrar e fomentar cada vez mais.

Crédito: Felipe Stucchi

SERVIÇO
AGOSTO
Domingo, 14 de agosto
11h – Praça Memória Do Jaçanã
Av. Antônio César Neto – Vila Nilo (Distrito de Jaçanã, Zona Norte)
15h – Praça Comandante Eduardo De Oliveira
Situada próxima à Rua Capitão Rubens, Parque Edu Chaves (Distrito de Jaçanã, Zona Norte)
Domingo, 28 de agosto
15h – Praça Ocapégua
Av. Calim Eid – Vila Esperança (Distrito da Penha, Zona Leste) Próxima ao metrô Guilhermina-Esperança (Linha Vermelha)

Classificação: Livre. Duração: 35 minutos

Para mais informações:
Instagram https://www.instagram.com/osmaldites/
Facebook: https://www.facebook.com/ciaosmalditos

Um comentário sobre “TeE Entrevista: Carlitos Tostes

  1. Essa peça é muito importante. E o bjetivo maior de levá- la à periferia é maior ainda : criar condições para que o público, para o qual o teatro quase nunca chega , tenha contato com o teatro, com esse autor . Além
    disso , levar a possibilidade de reflexão a respeito da existência de muitas crenças e religiões no Brasil. Ela poderá ajudar a combater a intolerância religiosa . Mais uma vez : parabéns a Mário de Andrade e ao grupo OS MALDITES!

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